Saiba morrer o que viver não soube

Saiba morrer o que viver não soube






Bocage


Meu ser evaporei na lida insana


do tropel de paixões que me arrastava.


Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava


em mim quase imortal a essência humana.


De que inúmeros sóis a mente ufana


existência falaz me não dourava!


Mas eis sucumbe Natureza escrava


ao mal, que a vida em sua origem dana.


Prazeres, sócios meus e meus tiranos!


Esta alma, que sedenta e si não coube,


no abismo vos sumiu dos desenganos.


Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube


ganhe um momento o que perderam anos


saiba morrer o que viver não soube.


Ismália





Alphonsus de Guimaraens


Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar...


Viu uma lua no céu,


Viu outra lua no mar.


No sonho em que se perdeu,


Banhou-se toda em luar...


Queria subir ao céu,


Queria descer ao mar...


E, no desvario seu,


Na torre pôs-se a cantar...


Estava perto do céu,


Estava longe do mar...


E como um anjo pendeu


As asas para voar...


Queria a lua do céu,


Queria a lua do mar...


As asas que Deus lhe deu


Ruflaram de par em par...


Sua alma subiu ao céu,


Seu corpo desceu ao mar...



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